A aula saíu à rua para conhecer, compreender, preservar e animar o nosso património.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Casa de Bragança e Vila Viçosa

Entrevista

Dra. Maria de Jesus Monge,
na Sala de Leitura D. Manuel II
A Sra. Dra. Maria de Jesus Monge é Directora  do Museu-
-Biblioteca Casa de Bragança, em Vila Viçosa e é responsável pela conservação, estudo, inventariação e divulgação das peças que estão expostas nos Museus de Arqueologia, Armaria, Carruagens, Tesouro, Porcelanas Azul e Branca da China, pelos  tecidos, pinturas, esculturas, cerâmicas, mobiliário    e considera o seu trabalho muito agradável.

Jornal Escolar - O Palácio, o Castelo e a Tapada pertenciam aos Duques de Bragança. Tinham mais alguns bens em Vila Viçosa?
Directora do Museu– Biblioteca — A Casa de Bragança era a grande proprietária em Vila Viçosa. Tinha o Palácio, o Castelo, a Tapada, edifícios pequenos, a Igreja dos Agostinhos e das Chagas e terras que eram cultivadas. Os Duques de Bragança ajudaram a pagar a maioria das Igrejas mas não lhes pertenciam. Há uma altura na História de Portugal em que todos os conventos passaram para a mão do Estado, mas a Igreja dos Agostinhos, que é o Panteão dos Duques, porque é lá que estão enterrados os duques, foi entregue à Casa de Bragança, já o das Duquesas, Igreja do Convento das Chagas, o panteão das duquesas, teve de ser comprado pelo rei D. Carlos.

J.E.— Quando os Duques de Bragança se tornaram reis de Portugal em 1640, quando é que vinham a Vila Viçosa e o que vinham fazer?
D.M-B.- Depois desse acontecimento houve a Guerra da Restauração. V. Viçosa ficava na fronteira com Espanha e ainda por cima pertencia à Casa de Bragança. É claro que havia sempre soldados por aqui, mas não era seguro e a família de D. João IV foi para Lisboa. Enquanto a guerra não acabou, não voltaram cá. Além de Vila Viçosa ser muito longe de Lisboa, os meios de transporte e as estradas também eram outras e chegava-se a levar mais de uma semana no caminho, não dava para combinar um fim-de-semana com um amigo! Era preciso muita organização e quando vinham era por algum tempo. Houve Duques de Bragança que vieram cá uma ou duas vezes na vida. Houve outros que vieram para ver as suas propriedades, como  D. João V e porque estava próxima da fronteira, houve aqui troca de infantas para casarem. No tempo de D. Carlos, como o rei gostava muito desta zona do país veio muito mais, não só para administrar as propriedades mas também para estar com os amigos, para caçar na Tapada. Nesse tempo, já havia comboio e era possível vir de Lisboa num só dia.

J.E.— Quem é que tomava conta do Palácio quando os reis não estavam?
D.M-B. - Havia um responsável máximo, o almoxarife que tomava conta de tudo, das casas, das terras, das pessoas. No período a seguir à República, havia uma senhora, que era governanta ainda no tempo da rainha D. Amélia, que aqui ficou até ao fim da sua vida.

J.E. – O rei D. Carlos e o príncipe D. Luís Filipe dormiram no Palácio a sua última noite antes de serem assassinados. Os seus quartos ainda estão como eram naquela altura?
D.M-B. - O Palácio foi habitado até 1910 e após a morte do seu proprietário, o rei D. Manuel II, em 1932, decidiu-se que tudo o que era para usar todos os dias, como pratos, copos, lençóis não era para estar num museu e então fizeram-se leilões. Tudo o que não era artístico foi vendido. Os quartos dos príncipes eram no andar de cima e já não têm nada, o do rei D. Carlos manteve-se.
  
J. E.- Depois da Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, o rei D. Manuel II foi para Inglaterra. O que aconteceu ao Palácio, ao Castelo, à Tapada?
D.M-B. – Antes dos Duques de Bragança serem reis esses bens já eram deles. Quando acabou a monarquia e foi instituída a República, continuaram a ser deles, neste caso de D. Manuel. Mas, como estava longe, em Inglaterra e estava proibido de entrar em Portugal, não podia vir cá para estar com os seus amigos ou passar o Natal como gostava de fazer, então ficou fechado até 1932.

J.E.– Quem é que manda hoje no Palácio, no Castelo …?
D.M-B- No seu testamento, D. Manuel decidiu que o seu património, como os edifícios e as suas colecções fossem usufruídas pelo povo e, por isso, devia ser feito um museu, o que foi criado em 1933. Depois de muitas obras abriu ao público na década de 40. Depois das primeiras obras, pessoas muito especiais telefonavam, marcavam e um senhor abria a porta e mostrava. Mas assim, como é hoje, só no final da década de 40, depois da II Guerra Mundial é que passou a funcionar.

J.E.– O Palácio é visitado por mais turistas nacionais ou estrangeiros?
D.M-B- Há muito mais turistas nacionais, até porque há muitas escolas que nos visitam. Como vocês sabem, muitos dos conteúdos que vocês estudam em História têm a ver com este palácio e a família dos Duques de Bragança. Somos também visitados por escolas espanholas. Há muitos estrangeiros que nos visitam por terem ouvido falar na arquitectura deste palácio, pois é o maior palácio civil que se construiu naquela época e por estar relacionado com a família mais importante do nosso país, mas também porque aqui existem muitas obras de pintura, cerâmica, a colecção de manuscritos e de livros que pertenceram a D. Manuel II, que não há em mais lado nenhum.

J.E.– O que é que os turistas mais apreciam e do que é que se queixam mais?
D.M-B- Queixam-se da dificuldade em chegar a Vila Viçosa, dos transportes, muitas vezes por não haver hotéis e restaurantes suficientes e gostavam de ter mais informação. Uma queixa muito importante é não haver luz eléctrica na maior parte do palácio, mas optámos por não haver por uma questão de conservação, pois ajuda a estragar sobretudo as pinturas e principalmente porque a maior parte dos incêndios que houve noutros palácios foram causados por ela. Portanto, apesar de ser desagradável para quem nos visita, especialmente no Inverno, também temos que pensar que no tempo dos duques não havia.

J.E.– Se os duques não tivessem sido reis de Portugal, como seria Vila Viçosa?
D.M-B- Os Duques de Bragança sempre foram os nobres mais importantes do nosso país, por isso, todo o investimento que fizeram em Vila Viçosa, se calhar tinha continuado. Como estavam ligados à família real, tinham vantagens. Vila Viçosa foi talvez, depois de Lisboa e Évora, no tempo do duque D. Teodósio I, a localidade mais importante do nosso país. Quando os Filipes de Espanha eram reis de Portugal, havia aqui uma corte de aldeia, onde se conspirava para expulsar os espanhóis de Portugal e foi daqui que partiu D. João para ser rei de Portugal. Depois, nos finais do séc. XIX, foi criado o primeiro quartel militar onde se ensinava cavalaria, no convento dos Agostinhos. Não se sabe, o que poderia ter acontecido.

Ana Lúcia Mestre, Ana Lúcia Rosa, Margarida Coelho, Pedro Melo – Clube Jornal Escolar
Jornal escolar “A Garotada”, 5 de Outubro de 2010





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